sábado, 3 de janeiro de 2015

Rede Globo produções e o rodopio no caixão de Tim Maia

Tim Maia do Brasil, como ele mesmo se definia. Desde o filme a minissérie, esperada por fãs do síndico, tem mostrado um Tim drogado, irresponsável e inconsequente. Um dos maiores gênios, maestros e personas definidos pela Rede Globo, uma de suas maiores arquirrivais durante a vida, como um boçal.
Ontem passei na livraria Nobel e estava lá a reedição do livro do Nelson Motta “Vale Tudo: o livro que inspirou o filme”. Com uma capa nova, moderna e arrojada. Sequer ostentava uma foto original do próprio Tim Maia. A foto era do ator que o representou no longa-metragem. Deixou de ser “Valeu tudo: o som e a fúria de Tim Maia”.
O Nelson Motta é o tipo de lacerdinha oportunista contador de história. Seu legado familiar sempre o aproximou de grandes nomes da música. A biografia de Tim Maia não poderia ser ruim. Ele formou a própria lenda de si mesmo. Uma história de luta, determinação e paixão por blackmusic. O Nelson era camarada de Tim, produziu diversos shows para ele. Também teve um namorico com a Elis Regina, amor este difícil de ser superado em sua vida. Obviamente Tim Maia também se apaixonou por Elis. Mas não passou de amor platônico.
Ele senta em poltronas, com suas camisetas 100% de algodão, seus óculos escuros e conta a vida de qualquer um. Nelson sabe de tudo. Conseguiu, com muito esforço e influência, emplacar um e outro hit ao longo de sua carreira, que se abrilhantaram por outras vozes.
No filme e na minissérie da Rede Globo não vi o Tim Maia shakespereano da Tijuca, o lovehits maker, o cara que se apaixonou por uma cadeirante antes da viagem aos Estados Unidos e lhe prometera ficar rico e pagar a cura para que voltasse a andar. Se falou pouco do Tião marmiteiro, que trabalhava ainda pimpolho carregando dezenas de marmitas pra cima e pra baixo pela Tijuca. Não se falou do quanto Roberto Carlos foi influenciado por Tim. Sua primeira banda com ele foi os Sputniks, quando convidado por Erasmo. Tim Maia definiu Roberto como um rapazinho mais ou menos, mas esforçado. E entrou pra banda.
Não se falou do Tim Maia que juntava uma criançada desconhecida em sua casa e regava a vida daquela bonecada com sorvete, brinquedos e palhaçadas. Não ouvi falar também do filho adotivo de Tim Maia, que quase é mais original que o seu filho biológico, Carmelo Maia. Leo Maia é uma extensão do seu pai adotivo. Canta, ama e representa muito bem o Tim. Ele teria muito orgulho. Educou seus filhos sempre com trocas de favores. “Quer uma bola de futebol nova, meu filho¿ Então lava meu carro”. Não tinha arrego com o patrão da Vitória Régia.
Também não veremos nada do empreendedor Tim Maia. O primeiro a se libertar das garras venenosas das grandes gravadoras que lucravam em cima do talento alheio dando centavos por cada disco vendido aos artistas. Instaurou a Seroma Records e se tornou o primeiro artista independente do mainstream. Tim Maia chutava muitas bundas. Ele era o cara.
No plin plin não teremos o Tim Maia do Brasil. Ele deve estar rodopiando dentro do caixão. Coitado. “Me dê motivos”. Desejo boa sorte nas vendas da reedição do “livro que inspirou o filme”. Vale a pena. Vale Tudo. Não pelo Nelson Motta, tão pouco pela Rede Globo. Vale, vale: pelo som e a fúria de Tim Maia.

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