Tim
Maia do Brasil, como ele mesmo se definia. Desde o filme a minissérie, esperada
por fãs do síndico, tem mostrado um Tim drogado, irresponsável e inconsequente.
Um dos maiores gênios, maestros e personas definidos pela Rede Globo, uma de
suas maiores arquirrivais durante a vida, como um boçal.
Ontem
passei na livraria Nobel e estava lá a reedição do livro do Nelson Motta “Vale
Tudo: o livro que inspirou o filme”. Com uma capa nova, moderna e arrojada. Sequer
ostentava uma foto original do próprio Tim Maia. A foto era do ator que o representou
no longa-metragem. Deixou de ser “Valeu tudo: o som e a fúria de Tim Maia”.
O
Nelson Motta é o tipo de lacerdinha oportunista contador de história. Seu
legado familiar sempre o aproximou de grandes nomes da música. A biografia de
Tim Maia não poderia ser ruim. Ele formou a própria lenda de si mesmo. Uma
história de luta, determinação e paixão por blackmusic. O Nelson era camarada
de Tim, produziu diversos shows para ele. Também teve um namorico com a Elis
Regina, amor este difícil de ser superado em sua vida. Obviamente Tim Maia
também se apaixonou por Elis. Mas não passou de amor platônico.
Ele
senta em poltronas, com suas camisetas 100% de algodão, seus óculos escuros e
conta a vida de qualquer um. Nelson sabe de tudo. Conseguiu, com muito esforço
e influência, emplacar um e outro hit ao longo de sua carreira, que se
abrilhantaram por outras vozes.
No
filme e na minissérie da Rede Globo não vi o Tim Maia shakespereano da Tijuca,
o lovehits maker, o cara que se apaixonou por uma cadeirante antes da viagem
aos Estados Unidos e lhe prometera ficar rico e pagar a cura para que voltasse
a andar. Se falou pouco do Tião marmiteiro, que trabalhava ainda pimpolho
carregando dezenas de marmitas pra cima e pra baixo pela Tijuca. Não se falou
do quanto Roberto Carlos foi influenciado por Tim. Sua primeira banda com ele
foi os Sputniks, quando convidado por Erasmo. Tim Maia definiu Roberto como um
rapazinho mais ou menos, mas esforçado. E entrou pra banda.
Não
se falou do Tim Maia que juntava uma criançada desconhecida em sua casa e
regava a vida daquela bonecada com sorvete, brinquedos e palhaçadas. Não ouvi
falar também do filho adotivo de Tim Maia, que quase é mais original que o seu
filho biológico, Carmelo Maia. Leo Maia é uma extensão do seu pai adotivo.
Canta, ama e representa muito bem o Tim. Ele teria muito orgulho. Educou seus
filhos sempre com trocas de favores. “Quer uma bola de futebol nova, meu filho¿
Então lava meu carro”. Não tinha arrego com o patrão da Vitória Régia.
Também
não veremos nada do empreendedor Tim Maia. O primeiro a se libertar das garras
venenosas das grandes gravadoras que lucravam em cima do talento alheio dando
centavos por cada disco vendido aos artistas. Instaurou a Seroma Records e se
tornou o primeiro artista independente do mainstream. Tim Maia chutava muitas
bundas. Ele era o cara.
No
plin plin não teremos o Tim Maia do Brasil. Ele deve estar rodopiando dentro do
caixão. Coitado. “Me dê motivos”. Desejo boa sorte nas vendas da reedição do “livro
que inspirou o filme”. Vale a pena. Vale Tudo. Não pelo Nelson Motta, tão pouco
pela Rede Globo. Vale, vale: pelo som e a fúria de Tim Maia.
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