segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Honório do Pastel e a compota de figo

O Honório poderia ser vereador e até mesmo prefeito, em qualquer município. Quanto mais aqui, no Porto dos Casais. Mas não quer saber de política. E nem precisa. Ele tem a melhor receita de pastel uruguaio de Porto Alegre. Sem frescura e mané “gourmetizações”. Bom pastel e boa prosa: fórmula perfeita do sucesso do meu amigo barrigudinho de nariz avermelhado. Já foi hippie e cabeludo. Mas se perde na malandragem com uma compota de figo.

Um dos primeiros amigos que fiz como nativo no bairro Cidade Baixa. Honório sabe de tudo. Sabe que o dono do Pingüim é o mesmo que do Só Comes, Pedrini e de um punhado de estacionamentos pelo vilarejo. Faz amigos de fé em menos de 30 segundos, mas não gosta de câmeras, condena o uso de dinheiro plástico e sabe que os outros pastéis são todos ruins.

Todo os dias ele come dois pastéis dos seus. Um saltenha (carne com pimenta especial) e outro de chocolate branco. Capricha na pegada do chimichurri, morde uma vez na borda, assopra e manda pra dentro. Mas neste dia, em específico, madrugada de sábado pra domingo, a lombra bateu forte. Comeu um cheese salada e depois meteu uma compota inteira de figo. Lambeu os beiço e ficou faceiro.

Não demorou muito e começou o revertério na sua pança. Internamente ele parecia um trem fantasma descarrilhado. Subiu e desceu várias vezes no pequeno banheirinho de sua pastelaria pra descarregar seu navio interior. A pressão começou a cair e o velho Honório suava frio. Baixou a grade e decidiu fechar a budega. Ficou só um velho conhecido lá com ele. Honório deitou no piso e falou “Chama a SAMU”.

Ficou até às 06h no postão da Vila Cruzeiro sendo atendido. Segundo a perícia, foi a compota de figo. Que sirva de aviso aos navegantes. Agora toda vez que eu vou comer um pastel no Honório eu digo “To com várias compotas de figo que ganhei lá em Estrela, não sei o que faço. Tu não quer umas? Eu trago pra ti”. O velho Honório se arrepia, nega e renega com a cabeça. Ficou com alergia. E quando eu vou embora eu digo pro meu velho amigo “Vai, mas não vai muito”.


Um comentário: