segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Elis Regina: a militante (PARTE 4)

Mais tarde, o segundo ato, foi o fatídico dia, em setembro, que Elis subiu ao palco para cantar o Hino Nacional, toda vestida de preto, em Belo Horizonte, no Estádio Mineirão, no mesmo ano.
- A conta veio, altíssima, em 1972, período mais negro da ditadura. Foi a maior humilhação de sua vida: gentilmente convidada a reger um coral de artistas que cantariam o Hino Nacional nas Olimpíadas do Exército, em plenos civismos de setembro, Elis apareceu de casaca e tudo na frente de milhões de tele-espectadores. Pra dizer não era preciso ter muito, mas muito peito. E, pela primeira e talvez única vez na vida, ela amarelou. É certo que, até então, ela não era exatamente uma artista polizada. Mas, por outro lado, não era uma simpatizante ou inocente útil como Roberto Carlos ou Antônio Carlos & Jocaf – explica Arthur de Faria.
Ao levar Elis Regina ao palco na abertura das Olimpíadas do Exército Brasileiro, para cantar o Hino Brasileiro, os militares fizeram a tentativa de causar a morte moral da cantora. Chamada de traidora de imediato e com queda moral amplamente disseminada pelo meio musical. Passou a ser insultada por diversos formadores de opinião e jornalistas dos “Anos de Chumbo”.
- Elis: Eu cantei nessas Olimpíadas e o pessoal da Globo todo também participou. Todos foram obrigados a fazer. E você vai dizer que não? Eu tinha exemplos muito recentes de pessoas que disseram ão e se lascaracam, então eu disse sim. Quando apareceu isso eu procurei o Aldir Blanc e disse: Poxa, que sacanagem. E ele falou: Você cedeu como cederam o 90 milhões. Agora, é fácil acusar. Quero saber o que quem me critica estava fazendo quando eu estava cantando nas Olimpíadas. E tem mais, numa situação excepcional, idêntica, eu não sei se faria de novo. Porque eu morro de medo. Faço todos os espetáculos me borrando de medo todos os dias. Faço, mas com medo. E se mandar parar eu paro, porque medo eu tenho – disse a cantora em um entrevista concedida a VEJA em 25/10/1978.
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domingo, 28 de setembro de 2014

Elis Regina: a militante (PARTE 3)

Entre algumas informações que constam no documento “Elis Regina” do Exército Brasileiro:
 “ - É muito afeita a gravar músicas de protesto, inclusive ligadas ao movimento do Poder Negro norte-americano, apesar de não demonstrar ligação com o mesmo;
   - Cumpre seus contratos e compromissos corretamente, aceitando programas não remunerados, quando para fins filantrópicos, ou solicitados por órgãos públicos.
    - Nos anos de 1966-1967 atuou ao lado de alguns cantores de esquerda considerados subversivos após as agitações de 1968, destacando-se, entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Edu Lobo. Faziam parte do “Grupo Paulo Machado de Carvalho”, da TV Record, Canal 7, de São Paulo e da Rádio Jovem Pan. Na época, anos de 1966/67, esse grupo foi considerado de orientação filo-comunista;”
  Já em sua carta, Elis afirma que o fato da entrevista na Holanda foi criado por jornalistas sensacionalistas. Explicou que suas declarações foram deturpadas brutalmente por eles. Mas após isto, os milicos não tiraram mais os olhos dela:
- Queria deixar registrado que, de algum tempo para cá, não presto declarações a órgãos de imprensa, a não ser por escrito, ficando comigo as cópias das entrevistas – explica a cantora no documento enviado ao Exército Brasileiro.  
A verdade é a que ditadura engasgava Elis, mas para seu próprio bem, sobtudo no Brasil, manteve-se calada. O medo não era só dela. Perseguições e ameaças eram mais do que repressão moral e cultural, era uma espécie de hobbie entre os militares.
Foram dois os fatos que trucidaram a moral de Elis perante sua luta com seus companheiros de esquerda. Um foi a gravação de uma chamada veiculada em todas as emissoras de TVs, a partir de abril de 1972, que na na época contava com a chefia do Governo Federal de ninguém menos do que Garrastazu Médici, o mais sanguinolento dos militares-presidentes, onde a cantora fazia um chamado ao povo para cantar o Hino Nacional no dia 7 de setembro de 1972. O vídeo promovia a Olimpíada do Exército, em filmes produzidos pela Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República. O exibicionismo dos atletas milicos era claro. Mostrando todo o preparo e perspicácia militar que o governo oferecia para proteger os civis de qualquer coisa que afetasse os “cidadãos de bem”.
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sábado, 27 de setembro de 2014

Elis Regina: a militante (PARTE 2)

Em uma época onde a sociedade brasileira dividia-se em “militares” e “civis”, a maior rixa de Elis Regina com o “lado de lá” veio com uma entrevista à imprensa internacional, em 1969, na Holanda, onde declarou que o Brasil era uma terra “governada por gorilas”. Estava de saco cheio com a falta de liberdade no país. A partir disto, Elis passou a ser mais do que uma grande pedra no sapato da ditadura. A cantora teve a honra de ser documentada entre os arquivos do exército brasileiro.
- Obviamente a macacada ficou sabendo: a embaixada brasileira mandou a matéria pra ninguém menos que o terrível e temível SNI, Serviço Nacional de Informações. A primeira ordem foi para prendê-la logo que pusesse os pés em terras brasileiras. Acabam mudando de ideia ao investigar e comprovar que – ao menos até ali – ela não tinha nenhuma participação política efetiva no Brasil. Só tinha falado demais – conta o escritor, músico e produtor gaúcho, Arthur de Faria.
Datado em 01 de dezembro de 1971, o documento do Ministério do Exército, intitulado com o assunto “Elis Regina”, consiste em duas folhas de informações em relação a cantora e outras duas folhas em que ela afirma não ter ligações com grupos de oposição política em uma carta escrita à mão. Este “intimasso” em Elis viria a lhe incomodar por anos a fio, com os gorilas cercando seus passos, conversas, contatos e inclusive suas transações bancárias. Segundo Aluizio Palmar, cientista social e jornalista, que atuou severamente em grupos de esquerda durante a ditadura, a embaixada brasileira teria emitido a cópia da declaração de Elis Regina afirmando que o Brasil era “governado por gorilas”. Tal fato, levou a cantora a esclarecer-se em um interrogatório ao retornar ao Brasil.
- Tal fato mostra claramente como haviam espiões infiltrados em todos os lugares durante a ditadura militar. Tanto informações pessoais, como o retraimento de Elis, quanto seu depoimento para a imprensa internacional foram escritos e apurados detalhadamente – explica Aluizio Palmar.
Chamada ao Centro de Relação Públicas do Exército Brasileiro para dar explicações, em 1971, de acordo com depoimentos da própria Elis à escritora Regina Echeveria, autora do livro “O furacão Elis”, foi em razão, em suma, deste caso, que ela teria sido obrigada a cantar nas Olimpíadas do Exército de 1972, o que de certo modo, como efeito apaziguador, de fato o fez.
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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Elis Regina: a militante (PARTE 1)


Filha de um talentoso comerciante, Elis Regina já teve um nome estratégico para seu sucesso. O pai já via a cantora na filha e optou por acompanhar “Regina” do no nome por questão de logística e marketing. Então, Elis Regina Carvalho Costa. Nascida em Porto Alegre, no dia 17 de março de 1945. Criou-se à beira do Guaíba, no Bairro Navegantes e pouco depois na Vila IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários). Projetada pelo governo Vargas, a vila seguia na configuração da época: prédios baixos, com poucos apartamentos, cercados de toda a infraestrutura para acolherer os operários que ali moravam em um clima comunitário. Uma infância simples e estrábica como tantas outras.
 Em seus 34 anos de vida, Elis Regina gravou 27 LPs, 14 compactos simples e seis duplos. Mais de quatro milhões de cópias vendidas. Foi a primeira cantora a registrar sua voz como instrumento na Ordem dos Músicos do Brasil. Esta é um pouco da história que todos conhecemos de Elis, também conhecida como Pimentinha, Élis-Coptero ou somente Élis, por alguns. Mas a vivência política é um lado pouco conhecido de cantora. Sua luta.
Participou de uma série de movimentos de renovação política e cultural no Brasil. Foi umas das principais vozes ativas na campanha pela Anistia de exilados brasileiros. Criticou muitas vezes a ditadura brasileira, nos chamados Anos de Chumbo, quando muitos músicos e artistas foram perseguidos e exilados. Tanto em declarações ou nas canções que interpretava, como O bêbado e o equilibrista, a qual vibrou mais tarde como hino da Anistia onde coroou a volta de vários artistas do exílio, a partir de 1979. Filiou-se ao PT (Partido dos Trabalhadores), em 1981, um ano após o partido ser fundado, considerado como um dos maiores e mais importantes movimentos de esquerda da América do Sul. A fama e prestígio de Elis lhe mantiveram fora da prisão. Sorte, talento e prestígio: a fórmula perfeita do sucesso.
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Desmilitarização já: avise a PM que a ditadura acabou

Canso de ver este vídeos de abusos em ações da Polícia Militar. Até quando seremos tratados como um inimigo de campo para a instituição militar? Me refiro a momentos de tensão e, inclusive, momentos aos quais ele provocam a truculências sem necessidade, como uma espécie de hobbie. Mini-guerrilhas civis são armadas a todo momento por quem deveria nos proteger, por esta “lógica de guerra” que orienta as ações da PM.
Não culpo os policiais em si, culpo o aparelhato que condiciona este tipo abusivo de conduta e o reproduz em nossos meios. A desmilitarização policial é mais do que uma necessidade. Tornar a polícia mais humana é um passo importantíssimo na nossa democracia.
Sem diálogos não chegaremos a base dos Direitos Humanos de ninguém. O Brasil é um dos últimos países do MUNDO a ainda manter o sistema de Policia Militar. Basta! A ditadura acabou, só esqueceram de avisar a polícia.

domingo, 21 de setembro de 2014

Demorei 20 anos pra entender que não sou roqueiro

Eu tentei. Me esforcei: usei bandana, camisetas pretas, rasguei meus jeans, escabelei pra cá e pra lá. Falei mal do Caetano Veloso e do João Gilberto. Em um dado momento acho que até mesmo consegui. Mas eu não sou roqueiro. Nada contra. Só não foi desta vez. Demorei 20 anos pra entender isto.
Quando o espírito da souêra tupiniquim bateu em mim foi algo libertador. Cansei de música 4x4. Só queria saber de “tchucu tchucu tá tchucu tá tchucu tá, tchucu tchucu tá tchucu tá tchucu tá”. Não só os discos, os livros ou os filmes, meus amigos, camaradas e namoradas foram mudando aos poucos e quando menos percebi estavam todos falando na mesma língua comigo: “tchucu tchucu tá”. Passei a rezar pro Tim Maia conforme as coisas iam ficando pretas e, de fato, muitas vezes fui atendido.
O mais difícil não foi convencer a mim que não sou roqueiro. O processo posterior tem se apresentado mais árduo. Convencer os outros de que sim, eu não sou. Minha família ainda tem suas dúvidas. Ainda acham que estou disfarçando. De longe talvez ainda ainda pareça um. Já fui acusado várias vezes. Sou um suspeito.

sábado, 6 de setembro de 2014

Paciência é atitude

O ônibus que atrasou. Como se não bastasse, veio lotado. Ah, a reunião que durou mais tempo do que o planejado. A namorada incompreensiva, ele não aguenta mais. A fila serpenteosa do banco, pra começar bem o dia. O caos no trânsito, a barberagem e a multa filha da puta. O pneu furou. Por quê eu? Estaria eu ficando calvo?
 No dia a dia criamos expectativas otimistas de que tudo ocorrerá da maneira como queremos. Mas não é assim que o baile acontece. O cotidiano se apresenta lotado de delírios e intemperes diversos que fogem do nosso controle. Devemos considerar isto como fenômenos extraordinários? Não. Tá na hora de acostumar-se à eles. Pois se acontecem diariamente, por quê frustrar-se?
Nem otimistas e nem pessimistas. Apenas conscientes de que a vida segue num fluxo e gira além dos nossos meros anseios. E tão pouco o dinheiro resolverá nossos problemas. Levados pela enganação de que o dinheiro resolverá tudo, os mais ricos tendem a demandar maiores frustrações.
Nem todo mundo estará disponível a dedicar o tempo em prestigiar o sucesso alheio. Devemos estar condicionados a estabelecer que nossas expectativas devem nos fazer bem e não mal. Por tanto, equilibrar-se. Não devemos viver sob à expectativa do outro e tão pouco cobrar dos outros o que está fora de nosso controle.
Sejamos pacientes e perseverantes. Dando um passo à frente já não estamos no mesmo lugar. Pois em cada copo de mar temos um mar infinito para um homem navegar.
                                     

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Desceu o elevador sem dar oi

Assistiu ao jornal e se foi. Pegou o elevador, cruzou com o vizinho, o ex-amigo e o sub-síndico com seu cachorro, mas nao deu oi pra ninguém. Seu “oi” é um privilégio para poucos, um “bom dia” para raros e um “olá, tudo bem?” coisa para abençoados escolhidos pelo destino. Em sua teoria de vida, distribuir cumprimentos em vão é um desperdício de energia num mundo onde mal temos tempo de saudar a si próprios.
Quando recebe um “olá”, os músculos da cara conflitam-se, esforçam-se, se juntam e elevam um sorriso curto em retribuição. Sem mostrar os dentes. É o que se tem. A parte mais aflita é quando um não cumprimentante encontra o outro, pois aí não rola o corte de saudação de nenhumas as partes. Tão sem graça. Desolador.
Já eu gosto de dar “oi”, “olás”, “qualés?” e “supimpas?” pra todo lado. Mesmo pro resmungão. Pra este inclusive gosto mais ainda. Gosto que o resmungão lembre de mim. Que me remeta a aquele chato metido a besta e feliz. Que ta sempre chegando e rindo a toa. Curto pacas receber aquele “tudo bem” tão inaudível que só se é capaz de se identificar através de leitura labial. É aí que vejo que to bem. Que se resmunguinho, tem ainda o resmungão, que poderia estar melhor que eu, mas não tá não.
A faceta, este cartão de visitas sorridente e ambulante, é responsável por nos representar, quer queira ou não queira. Quando sorri pro outro, sorri pra ti também. Pois o outro é também outro reflexo de ti.