Mais
tarde, o segundo ato, foi o fatídico dia, em setembro, que Elis subiu ao palco para cantar o Hino Nacional,
toda vestida de preto, em Belo Horizonte, no Estádio Mineirão, no mesmo ano.
- A conta veio, altíssima, em
1972, período mais negro da ditadura. Foi a maior humilhação de sua vida:
gentilmente convidada a reger um coral de artistas que cantariam o Hino
Nacional nas Olimpíadas do Exército, em plenos civismos de setembro, Elis
apareceu de casaca e tudo na frente de milhões de tele-espectadores. Pra dizer
não era preciso ter muito, mas muito peito.
E, pela primeira e talvez única vez na vida, ela amarelou. É certo que, até
então, ela não era exatamente uma artista polizada. Mas, por outro lado, não
era uma simpatizante ou inocente útil como Roberto Carlos ou Antônio Carlos
& Jocaf – explica Arthur de Faria.
Ao levar
Elis Regina ao palco na abertura das Olimpíadas do Exército Brasileiro, para cantar o Hino Brasileiro, os militares fizeram a tentativa de causar
a morte moral da cantora. Chamada de traidora de imediato e com queda moral
amplamente disseminada pelo meio musical. Passou a ser insultada por diversos
formadores de opinião e jornalistas dos “Anos de Chumbo”.
- Elis: Eu cantei nessas Olimpíadas e o pessoal da
Globo todo também participou. Todos foram obrigados a fazer. E você vai dizer
que não? Eu tinha exemplos muito recentes de pessoas que disseram ão e se
lascaracam, então eu disse sim. Quando apareceu isso eu procurei o Aldir Blanc
e disse: Poxa, que sacanagem. E ele falou: Você cedeu como cederam o 90
milhões. Agora, é fácil acusar. Quero saber o que quem me critica estava
fazendo quando eu estava cantando nas Olimpíadas. E tem mais, numa situação
excepcional, idêntica, eu não sei se faria de novo. Porque eu morro de medo.
Faço todos os espetáculos me borrando de medo todos os dias. Faço, mas com
medo. E se mandar parar eu paro, porque medo eu tenho – disse a cantora em um
entrevista concedida a VEJA em 25/10/1978.
Continua...