segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Talvez eu fique careca

Talvez eu fique careca. Isto é um processo de aceitação que deve ser adotado antes das consequências. Não adianta tentar esconder, sempre fica pior. Viver é mesmo um prazer embriagador e vulgar. Ontem enquanto conversa com um amigo, entre uma birita e outra, analisávamos as nossas próprias possibilidades de encarecamento, entradas e redemoinhos tortos em cima de nossos cocos.
— Mas eu sempre fui assim — dizíamos.
Rimos feito hienas em versões Cheech & Chong enquanto imaginávamos as mesmas desculpas com as cabeças lustrosas e peladas. Já tá difícil de aceitar. A frase “Mas isto foi sempre assim” é algo que tenta reconfortar esta perda. O careca é sempre o último a saber de sua própria tragédia capilar. Ninguém vai te avisar da situação. Não existe uma orientação de penteado. Então o ideal é aproveitarmos bem o período cabeludo de nossas vidas.
Dizem que o John Travolta usa peruca. Se sabe que o Silvio Santos também. O mojo do Austin Powers também é capilarmente artificial. O problema não é aderir a peruca, mas sim que se descubra que você perdeu a própria guerra. A culpa é sempre do uso do chapéu, do boné ou da boina. Nunca é culpa do próprio cucuruto favelado.
Me avisem quando a situação estiver crítica pro meu lado. Já opero a aceitação. Aceito conselhos também para poupar minhas madeixas. De suco de tamarindo ao grão de linhaça. Talvez eu seja tipo um Cauby Peixoto do Jornalismo. Vou me orgulhar das pontas duplas e do meu grisalho. Mas eu posso ser uma espécie de “careca de tanto saber”. Aí eu vou ser uma espécie de Hunter Thompson tupiniquim. Ou um Saramago da obviedade intransigida. Eu to pronto com meu cucuruto pro que der e vier.

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