terça-feira, 1 de setembro de 2015

Tonho Crocco de todos os santos

Um cientista da funkadelia musical, Tonho Crocco é um dos maiores orgulhos da cultura popular de nossos pampeados. Mais do que um músico de mão cheia, ele é um pesquisador perseverante da música negra e de suas infinitas possibilidades. É, mas não para por aí. A música é só o produto final da salvação: Tonho também beberica na política, no budismo, no vegetarianismo e na poesia da mais alta procedência. É um artista sem preço.

Fui convidado pra ouvir em primeira mão as prévias de seus novos trabalhos. Me perdi no caminho, mas não foi difícil achar o Tonho não. No Partenon ele é quase um ponto turístico. Todo mundo sabe onde fica. O Partenon todo se orgulha do canário que habita seu reino. Na nossa versão de Brooklyn aprendeu a viver. Aliás, o Partenon é berço da música inovadora: Luis Wagner, Da Guedes, Pau Brasil e Ultramen.

Entre guitarras, violões, samplers de DJ e grafite a casa de Tonho tem uma coleção de discos de vinis da porrilhésima potência. Banda Black Rio, Funkadelic, Tim Maia de todos os gostos, Pau Brasil, Luis Wagner, Zapp e por aí vai. Mas não fica só na nostalgia, Tonho procura manter as antenas ligadas em novos artistas que estão por aqui buscando novos jeitos de se fazer música. É padrinho de muita rapazeada que tá começando, do rádio ao underground. A entusiasmante Camila Lopez, uma das novas grandes vozes daqui, por exemplo, é uma delas. Estão fazendo uma parceria de gogó juntos que vai dar no que falar. Por estas e outras que vai faltar rádio pro que está por vir.

Quando digo que Tonho Crocco é um dos maiores ícones da cultura pop da gauchada, é porque ele transcende os estilos, e tão pouco integra o conceito simplório do Rock Gaúcho e dos cabelinhos milimetricamente desfiados da classe média rebelde dos pampas. Tonho Crocco é do Brasil. É o samba, o R&B, a MPB, o rap, o samba rock, o balanço, o funk soul e o crooner da voz que sobra. Tonhão, mais do que do povo, é do som. Não é um estilo: é a musicalidade.

Crédito da foto: Christian Jung

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Do truco ao truque

Faltando dois meses para fechar um ano desde que Sartori foi eleito governador do Rio Grande do Sul, a situação de paralisia transborda pelos poros do Estado. O gringo proseador e humorado foi coadjuvante de uma das melhores e mais efetivas campanhas políticas de todos os tempos. Mesmo sem prometer nada, exaltou-se a imagem do homem simples e realizador. Mas, passada a campanha cheia de aforismos piadistas, a tal da graça troteou pra longe dos pampas.

Parece que o governador perdeu o livro de piadas e o baralho de truco (carteado de origem italiana) que carregava em sua maleta durante a campanha. Recorria a um destes dois itens: o primeiro persuadia e o segundo dissuadia. Mas a crise do Estado é e sempre foi coisa séria. O humor não pode nos enganar mais do que por um instante, ligeiro ele sempre tem menos palavras do que o necessário, pois brinca perto da grande fogueira que é a realidade e de vez em quando esquece-se do calor da hora.

Sem saber o que fazer, Sartori tateia no escuro as possibilidades de reerguer o Estado, que, diga-se de passagem, são plenamente possíveis. Mas o governador terceiriza suas responsabilidades para outros poderes, os quais não foram eleitos, de fato, para governar o Rio Grande do Sul.

Ao que tudo indica Sartori pegou emprestado um plano de governo antigo, que já vimos aqui por estas querências. Volta a vigorar o arrocho salarial para justificar o corte de gastos e serviços públicos e o clima apocalíptico de crise para enaltecer impostos e privatizações. Ainda temos que melhorar muito para ficar mais ou menos.
 

terça-feira, 7 de julho de 2015

Eduardo Cunha: o usurpador tupiniquim

O Eduardo Cunha, quando menino, era o tipo de pimpolho que apanhava de pantufa. Entre mansões de lego, arquibancadas de futebol de botão e lágrimas de leite com pêra que escorriam em seu rosto por sua tenra formação, o jovem jamais soube aceitar um não. O próximo projeto que quer tramitar no Congresso é patentear a palavra “Não” em tradução livre para “Com certeza”, aqui no Brasil.
Uma pequena curiosidade do Cunha, além do fato de usar Hair Sink e Head & Shoulders , é que já foi tesoureiro do Collor, quando ainda era filiado ao PRN (Partido da Reconstrução Nacional), que depois virou o PTC (Partido Trabalhista Cristão), o qual hasteia-se a bandeira do Liberalismo, em nome de Deus.
Houve-se um tempo em que as estribeiras eram tangíveis. Podia-se avistá-las como um alquimista sentado com as pernas cruzadas balançando no ar, fumando charutos numa encruzilhada. A bancada mais conservadora de todos os tempos. Ideias fechadas, embutidas, prensadas a vácuo, em alguns casos. Alguns ainda consideram que “Diálogo” foi um antigo imperador da China, tamanha a defasagem enciclopédica.
Teremos que comemorar se chegarmos em 2018 ainda como República, com voto feminino e sem proletarização da terceirização dos terceirizados. A caravana do Eduardo Cunha está tinindo, os carburadores queimando alto, alimentando a explosão deste motor Lacerda Total Flex. Enquanto a esquerda se divide em diversos sub-setores e sub-esquerdismos, o lacerdismo e a direita se organizam em prol do seu bem comum: o capital financeiro.
A manobra regimental de Eduardo Cunha para dar um “jeitinho” de aprovar a redução da maioridade penal já estava sendo arquitetada poucos minutos após a derrota que sofreu na primeira legítima votação. Enfurnado com lideranças do PSDB, PSD, DEM e de outros partidos de oposição, Cunha não perde nenhuma queda de braço. É o Balboa do congresso. Mais patrocinado do que o Neymar e o Messi em boa fase.
Cabe lembrar que medidas “aglutinativas”, como a manobrada por Cunha, somente podem ser votadas após a votação do texto principal, desde que ele tenha sido aprovada, o que não foi o caso. Colocou a emenda de texto acima do texto original da PEC. Em resumo, colocou o interesse próprio antes da democracia. Cunha usurpador.
Após toda esta avalanche de emoções, corrupções, delações e concessões a esquerda finalmente considera a hipótese de se unir e batalhar pelas causas e pelas cousas.  Só falta saber quem vai jogar de camisa e quem vai jogar sem.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Julio Flores: Poder na mão da classe trabalhadora

Nada mais adequado para falar da crise política atual do que um militante de oposição que acompanha os rumos políticos de perto. Em meio a pedidos de impeachment, ajustes fiscais e terceirização do trabalho, Julio Flores integra os principais movimentos de esquerda do Rio Grande do Sul.

Natural de São Borja, Julio Flores é professor de matemática no Estado e na capital gaúcha. Sua militância política iniciou no movimento estudantil, em 1979. Participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e após sua saída do partido, em 1992, integrou a criação do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).

Aos 56 anos, já concorreu a nove eleições. Em 2004 somou mais de 5.600 votos para vereador e mais de 10.000 votos para deputado estadual, em 2006. Socialista e de luta, em entrevista Julio fala de sua visão sobre os rumos políticos atuais no Brasil e aponta possíveis soluções à esquerda:

Cristiano: Julio, o governo Dilma começou seu segundo mandato promovendo o ajuste fiscal. O trabalhador, neste momento, sente o peso dos altos impostos e das medidas que foram alteradas nos seus direitos. Qual a sua opinião sobre isto?

Julio: O governo Dilma colocou ninguém menos que o Levy para comandar a economia, algo que, sem dúvidas, o Aécio Neves faria. Então, não faz tanta diferença entre um e outro. O ajuste fiscal é algo para beneficiar os banqueiros e as grandes empresas. Tanto é verdade, que existe um acordo por parte do PSDB para aplicação deste projeto. De fato, o ajuste fiscal é um projeto do PSDB desde sempre.

Cristiano: O PT, desde sua origem, foi a esperança política de muitas pessoas. As greves no ABC, no início dos anos 1980, mobilizavam milhares de trabalhadores em prol da luta por igualdade social. Lutaram lado a lado pelo fim da ditadura e pela democratização do Brasil. O que se vê no cenário atual são as coligações duvidosas, o envolvimento em corrupções e a omissão em pautas de interesse da classe trabalhadora. Para você, que fez parte da criação do PT, como este caminho que o PT tomou é visto?

Julio: O modo como o PT degringolou é uma tragédia histórica que envolve a expectativa de milhões de trabalhadores que apostavam numa saída diferente que mudasse profundamente o rumo da história. Mas o que aconteceu, de fato, foi que o PT se adaptou ao status quo, o conhecido regime democrático burguês. O Lula, no início de sua jornada política ao sucesso, era contra a criação do partido. Ele propunha um partido popular, uma coisa policlassista que virasse o signo dos trabalhadores. Integrei com outros companheiros  a convergência socialista do PT que, de forma oficial, foi institucionalizado por Zé Maria, em 1979, durante um congresso, em São Paulo. As greves do ABC foram poderosas, um estopim eleitoral. Mas o PT foi se adaptando aos parlamentos e aos governos, mudando completamente os propósitos originais.

Cristiano: Nesta mudança de objetivos do PT, o que ele passou a defender?

Julio: Assim como outros partidos tradicionais, o PT, hoje, defende a manutenção do capitalismo em prol da burguesia. O ajuste fiscal, por exemplo, corta na saúde, na educação, na segurança etc. Mas se observares, por onde investigam é possível encontrar falcatruas nestes setores. A corrupção é inerente a este sistema. O capitalismo por sua própria natureza é corrupto. O seu grande motor é o lucro, seja ele de maneira legal ou ilegal. As leis estão aí para favorecer o lucro e quando não dá, eles fazem por fora.

Cristiano: O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), o qual você também participou da criação, foi oficializado em 1994. Como foi sua saída do PT?

Julio: Saí do PT em 1992, quando ao convergência socialista foi expulsa numa operação liderada por José Dirceu, o famoso chefe do mensalão. Fomos expulsos na época do Fora Collor, o setor de esquerda o qual integrava, defendia o “Fora Collor”, isto, sem mais enfeites, e o José Dirceu, sua turma do PT não eram contra. Foram mudando de opinião paulatinamente, amenizando tudo por dentro do calendário eleitoral. Apostaram na eleição e no desgaste da imagem do Collor. Quando o Collor convocou a população que fosse às ruas de verde e amarelo e todo mundo saiu em luto, vestidos de preto, foi que o PT começou a defender o impeachment, tudo bonitinho e poético, como rege o parlamento. Com processo e tudo.

Cristiano: Julio, milhares de pessoas têm saído para rua pedindo o impeachment da Dilma. Como os movimentos de esquerda se posicionam em relação a isto?

Julio: Agora um setor minoritário da direita propõe o impeachment da Dilma, coisa que nem o PSDB e tão pouco a Globo apoiam. Na verdade, é vantajoso para a burguesia que o PT permaneça no poder. Estão satisfeitos. As empreiteiras estão contentes. Não existe esta coisa de golpe contra o PT. O PSTU acredita que o povo tem que sair pra rua, se manifestar, fazer uma grande greve geral. Mas não aliada com estes movimentos de direita. A esquerda não é este movimento de camisas da seleção em verde amarelo, de vuvuzelas. A esquerda é tão pouco o PT. Chegou uma hora que ou se é de esquerda ou se é petista, praticamente. As pessoas que vão nas manifestações contra a Dilma não são necessariamente de direita, foram porque estão sendo convocados pela mídia. Todos os grandes partidos estão envolvidos na corrupção, inclusive o PSDB. O governo Dilma é um governo do grande capital, historicamente, desde o governo Lula. Mesmo que o impeachment acontecesse, nada mudaria. Colocar o Renan Calheiros, presidente do Senado, ou o Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, seria trocar seis por meia dúzia, tendo em vista que o PMDB já governa o Brasil.

Cristiano: Em relação às denúncias ligadas ao PSDB, pouco se fala. Recentemente, em uma entrevista com Fernando Henrique Cardoso à Agência Reuter sobre corrupção, uma observação perdida do repórter foi constada “Podemos tirar se achar melhor”. Como o PSDB consegue ficar em segundo plano em meio a todo a corrupção?

Julio: O doleiro Yousseff delatou que o Aécio Neves está envolvido na corrupção em Furnas, em Minas Gerais, por exemplo. Mas a justiça tirou o nome dele, não incluiu. A mídia está blindando o PSDB. A mídia e o PSDB têm uma relação orgânica. Eles tem um benefício com isto, estão aliados e envolvidos, claro, alguns com diferentes nuances. Mas também não é só PT e PSDB que estão envolvidos na corrupção e, sim, todos os grandes partidos.

Cristiano: Em meio a polarizações políticas, o PT ainda é visto como um partido de esquerda pela oposição. Qual a importância dos partidos de esquerda se mostrarem contra este governo?

Julio: A esquerda deve se mostrar contra este governo. Temos, inclusive, um espaço de unidade de ação para reunir organizações dos trabalhadores, dos sindicatos, dos movimentos sociais, para que se convoque mobilizações para chamar o povo pra rua. Não há outra coisa a se fazer neste momento a não ser ir pra rua e fazer uma grande greve geral contra o ajuste fiscal e a corrupção. Temos que colocar os trabalhadores no centro da cena política. Isto é o que de fato coloca as coisas nos eixos. O trabalhador é o protagonista e não podemos deixar o poder na mão da direita. Achamos que é necessário ir além das delações premiadas, temos é que confiscar os bens dos corruptos, pois depois que saírem da cadeia vão usufruir do que roubaram. Além disso, devemos estatizar as empresas, é claro. A Dilma taxa os trabalhadores para que paguem as corrupções dos governantes e os grandões ficam ilesos.

Cristiano: A terceirização do trabalho tem sido amplamente debatida no Congresso. As opiniões se dividem e o caminho vai sendo favorável a implementação do projeto. Qual sua opinião?

Julio: Em relação a terceirização do trabalho, nada mais é do que um projeto para beneficiar os “amigos” dos poderosos. É uma hipocrisia só. Fazem cortes só no lado de cá. Mas aumentam os próprios salários e de seus parlamentares. Falam que serão rigorosos nas contas, mas com as contas dos outros, porque com as contas deles eles não mexem. É um absurdo um deputado ganhar R$ 30 mil, sem contar com as verbas de gabinete. Um deputado deveria ganhar um salário médio de um trabalhador especializado ou de um professor. Somos contra.

Cristiano: Julio, quais seriam os passos para terminar com a corrupção política no Brasil?

Julio: O que se deveria fazer é estatizar estas empresas corruptoras, confiscar todos os bens e colocá-las sob o controle do povo. O PT jamais vai fazer isto. Outra coisa importante: movimentos de trabalhadores como a CUT e o MST deveriam romper com apoios ao governo. Os trabalhadores, de todos os setores devem ficar unidos. Deve se estabelecer uma grande luta nacional para que possamos acabar com esta falsa polarização.

Cristiano: Quais as possíveis saídas para solucionar estas questões políticas que o PSTU tomaria caso fosse eleito?

Julio: Se um governo de esquerda assumisse no Brasil, se fosse verdadeiramente, com iniciativa popular, se o povo organizasse e governasse, ainda assim haveriam alguns riscos, pois, enquanto o capitalismo não for combatido em escala global, há uma chance de retrocesso. O capitalismo como um todo é munido de um elemento de pressão, de privilégios, de compras e vendas. O que vimos pelo mundo como base de esquerda em governo não nos serve. Cuba, por exemplo, já se restaurou  ao capitalismo. A telefônica de lá é espanhola. Caminham para o mesmo processo de restauração capitalista que houve na Rússia, na China, na União Soviética e pela qual passa agora a Grécia. Se eleito, começaria pela dívida do Estado e um severo combate as isenções fiscais. Só de sonegação são quase R$ 15 bilhões, ou seja, mais ou menos o que foi roubado nas corrupções da Petrobrás. Já daria pra fazer chover.

Cristiano: Muitos dos vereadores, deputados, senadores e demais cargos políticos são representados por celebridades, famosos ou por pessoas conhecidas do grande público. Sem possuir ligação qualquer com partidos ou causas políticas ao longo de suas carreiras, concorrem a cargos políticos com recordes de votos. Além disso, outros candidatos com visões conservadoras, como Marco Feliciano, Luis Carlos Heinze e Jair Bolsonaro, por exemplo, são eleitos com votações muito expressivas por representar uma grande parte da população. Onde a democracia falha neste tipo de situação?

Julio: Infelizmente as pessoas confiam nos seus algozes. O trabalhador se ilude. Confia em quem o explora. Só o processo de luta, de informação e história é capaz de mudar este tempo e dar uma nova consciência ao conjunto do povo. Mas isto vai mudar. A internet tem ajudado também as pessoas a se comunicar e informar. Isto tem ajudado a potencializar as lutas e forma consciência política. Todo o debate é válido. Recentemente, a internet ajudou as pessoas a se mobilizarem para as lutas da Primavera Árabe. Mas na verdade, a internet é só uma função mediadora, pois são as pessoas que se mobilizam. Foi uma das formas que usaram para se organizar. A nova geração tem consciência política e isto faz com que a própria mídia se modernize e busque acompanhar. A saída à esquerda vai chegando.


quarta-feira, 1 de abril de 2015

2069: numa boa vivendo o fim do futuro

É 2069, tenho 80 anos e estou cortando as unhas dos meus pés. O alicate de unhas é umas das poucas coisas que não se reinventaram até então. Atualizo o aplicativo do chip inserido no meu braço esquerdo que cuida do meu fígado. O wi-fi grátis do mundo fica pendurado na antena do meu brinco. Sento no sofá com massageador de bolitas e assisto o filho adotivo do Jean Willys assumir a presidência no meu Google glass modelo vintage XT GRAND MASTER FLASH 2. Até que enfim.
         O alzeimer que tive aos 70 anos foi curado com as pesquisas feitas em cérebros de pessoas que diziam “Então, vai pra Cuba” por qualquer motivo. Cousa que se ouvia muito pelos meados de 2010 até 2015. As que diziam “Não confunda liberdade com libertinagem” também serviram de estudo para casos de epilepsia, dislexia e alguns casos de sinusites crônicas.
O Roberto Carlos ainda faz o especial da Globo. Foi ressuscitando graças as pesquisas de célula tronco e já foi clonado duas vezes. Recentemente se envolveu num polêmico comercial para o MC Donalds. Não por quebrar o vegetarianismo pela quinta vez, mas por abandonar os jalecos brancos e azuis e passar usar só camisa vermelha depois do comercial.
O Ricardo Teixeira também ainda é o presidente da CBF. Durante um tempo ficou sumido. Ficou fazendo copas e mais copas por holograma. Até que descobriram que estava congelado na Suíça há exatas 3 quadras do HSBC mais próximo. Criou recentemente a Teixeiras Nepotismus Enterprises, uma empresa com núcleo familiar que cuida das atividades filantrópicas sem fins lucrativos do futebol.
O ramo farmacêutico cresceu tanto que agora é usado como referência de localização. “Moro perto da Drogabel 2229. Se tu virar a esquerda na São Joao 3001 e pegar a Panvel 933, segue pela transversal da Mais econômica 150 que tu logo vai ver um jardim com um flamingo regador giratório, é ali mesmo”. Foram inventados remédios que previnem outros remédios. Com o Dorpréx, já se previne dores pelo corpo. Bene-antigripe, te deixa não gripado a qualquer  hora. Viagra não existe mais. Afinal, todo mundo consegue ficar de tico duro em 2069. Inclusive as mina.
Finalmente os recursos do mar tornaram-se potáveis. Após anos nos domesticando com água Crystal da Coca-Cola, o sódio foi subindo com os anos e agora bebemos água dos oceanos na maior tranquilidade. Às vezes coloco com leite ou iogurte em pó e misturo no meu sucrilhos. O mate instantâneo também faço com a água do Atlântico. Bem topetudo.
Parei de roncar porque parei de dormir. Camas só servem para trepar em 2069.



sexta-feira, 13 de março de 2015

Olhos abertos na Perimetral: 10% é a mãe

Sou do bolicho. Da birita a preço de bom grado e do prato feito com amor e sazóns da vida real. Não é pedir demais. Cervejas comuns por mais de 10 pilas é um crime social, ambiental e antropológico. Sim. Elitizar um dos maiores lubrificantes sociais a tal ponto é uma insensibilidade com o seu semelhante ou assemelhado. Aí superfaturar na minha sede e querer que eu ainda contribua com um 10% de forma compulsória? Na bunada não vai dinha, não?
         Raramente faço questão de pagar os 10%. Não sou um ser humano pior por isto. É facultativo. Entre muito estudo, chimarrão e cuca já se estabeleceu que o pagamento dos 10% deve ser informado em letras grandes e visíveis. E também deve-se ostentar um cartaz com dimensões de, NO MÍNIMO, 50 centímetros de comprimento e sensacionais 60 centímetros de altura.
         Na última vez que fui no Perimetral, na Cidade Baixa, quando me desloquei ao caixa pra pagar informei o atendente que não queria pagar os 10%, porque de acordo com minhas experiências anteriores, nunca me informaram. O que deveria ser obrigação do estabelecimento.O preço já vinha embutido no pacote. Sobre a bandeira do constragedorismo asteia-se a má fé dos lobos maus. Por mais que pedi pra deixar os 10% de fora, o preço cobrado não bateu com o que gastei. Fiquei com as antenas de vinil tinindo. 12 conto numa Original. E ainda o cara pálida do atendente falou:
         — Aqui na volta o preço é assim mesmo.
         Então peguei o cardápio e fui ver. Não era 12 pilas a cerveja e sim R$ 10,50. E mostrei pra ele.
         — Calma, senhor.
         Calma é minha vó vendo novela de pantufa. Calmo é o crédito pessoal do Bill Gates. Calmo é um passeio em Quintão no inverno. Calmo não sou eu quando alguém tenta me passar pra trás de forma tão descarada.
         Olhos abertos na Perimetral, nos bosques e nas avenidas. 10% é a mãe. E la nave vá. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Wander Wildner: Existe alguém aí?

Investindo no lado pós-romantista, o “Existe alguém aí?”, oitavo disco na carreira de Wander Wildner, é uma crítica à sociedade urbana. Um chute na bunda do caos apocalíptico contemporâneo das grandes metrópoles criado pelo homem cifrudo. Conceitual e mais popular do que nunca, o disco conta com 10 canciones inesperadas. Em cada faixa um personagem é o herói de si mesmo e luta pra fazer a diferença do seu mundo interior para o exterior.
  - Até onde vivemos nossas próprias vidas? A maioria prefere viver a vida pelos televisores – conta o artista.
  Já na capa, idealizada por Wander e executada por Eloar Guazzeli, prédios se elevam por uma cidade chuvosa e quase alcançam o olimpo de Porto dos Casais. No meio desta selva de pedras, um personagem toca guitarra num terraço embaixo de um spoiler com uma ilha. Eis o personagem de "Numa ilha qualquer", um dos maiores hits do disco, e este é o primeiro sonho. Zarpar pra bem longe das metróples, viver um amor transcendental numa ilha distante dos pecados capitais das capitais.
  O disco canta a morte de Porto Alegre. O tiro no pé de uma cidade que pegou o caminho errado, que se perdeu nas próprias transversais de suas contra-mãos. Não existe mais procura, apenas oferta e demanda.
  - As pessoas não vivem suas próprias vidas. Optaram pelo caminho do lobo, por uma vida capitalista e consumista. Não se perguntam 'Quem eu sou?', 'O que faço neste planeta?', 'Pra onde vou'?. Ao invé de procurar dentro de si, procuram pra fora, copiam do outro. Não é uma questão de bem e mal - explica.
  No momento sua nave espacial intergaláctica está estacionada no Bom Fim. Uma morada com vista pras estrelas, pé de manjericão e produção artesanal de cerveja. Mas Wander Wildner não pertence a lugar nenhum. Já morou em Lisboa, Berlim, Guarda do Embaú, São Paulo, Rio de Janeiro, Lajeado e, claro, Porto Alegre. A solução, segundo ele, é sair da cidade. Este é o espírito da cousa.
      - A cidade não tem mais solução. Tá globalizada. Eu propiciei que a música me levasse à diversos lugares. Inventei isto. As pessoas tem liberdades e não usam o livre-árbitrio. A gente pode fazer qualquer coisa. Qualquer coisa. São infinitas possibilidades. Eu não tenho cidade. Mas as pessoas optaram por viver normas e convenções - conclui.
  No exterior gosta de ver as coisas de fora pra pensar diferente. Aí volta pras terras tupiniquins. Não gosta de pensar em alemão, inglês ou italiano. Já pensar em espanhol feito um amante mexicano, por vezes, ajuda no processo de composição. Afinal, é um poeta curvilíneo de pensamentos tortos.
 O romantismo acabou. O punk brega amassou as flores. Agora o romancismo é que impera na inspiração de Wander Wildner.
 —   O romantismo é a época da Jovem Guarda e o romancismo é o romântico de todas as épocas. O romântico sofre com a história porque é over. Nada pode ser muito mais do que outra coisa. O romancista vê de cima, toca teclados mágicos e anda em naves espaciais. É preciso se elevar para ver o mundo – diferencia o cantor.
Sorte, busca e desapego alimentam os bons momentos do proseador. O novo disco de Wander Wildner é uma HQ sonora, cheia de personagens e histórias bacanudas. Mostra que o virtual é uma ferramenta, mas que a aventura está lá fora. Que o poder de dentro é maior do que o dos “poderosos”. Só o som espacial faz voar. Então, procuremos para dentro e fujamos para as colinas. Sejamos feios, mas sejamos bonitos. Salve-se quem puder.