quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Desceu o elevador sem dar oi

Assistiu ao jornal e se foi. Pegou o elevador, cruzou com o vizinho, o ex-amigo e o sub-síndico com seu cachorro, mas nao deu oi pra ninguém. Seu “oi” é um privilégio para poucos, um “bom dia” para raros e um “olá, tudo bem?” coisa para abençoados escolhidos pelo destino. Em sua teoria de vida, distribuir cumprimentos em vão é um desperdício de energia num mundo onde mal temos tempo de saudar a si próprios.
Quando recebe um “olá”, os músculos da cara conflitam-se, esforçam-se, se juntam e elevam um sorriso curto em retribuição. Sem mostrar os dentes. É o que se tem. A parte mais aflita é quando um não cumprimentante encontra o outro, pois aí não rola o corte de saudação de nenhumas as partes. Tão sem graça. Desolador.
Já eu gosto de dar “oi”, “olás”, “qualés?” e “supimpas?” pra todo lado. Mesmo pro resmungão. Pra este inclusive gosto mais ainda. Gosto que o resmungão lembre de mim. Que me remeta a aquele chato metido a besta e feliz. Que ta sempre chegando e rindo a toa. Curto pacas receber aquele “tudo bem” tão inaudível que só se é capaz de se identificar através de leitura labial. É aí que vejo que to bem. Que se resmunguinho, tem ainda o resmungão, que poderia estar melhor que eu, mas não tá não.
A faceta, este cartão de visitas sorridente e ambulante, é responsável por nos representar, quer queira ou não queira. Quando sorri pro outro, sorri pra ti também. Pois o outro é também outro reflexo de ti.

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