Em uma época onde a
sociedade brasileira dividia-se em “militares” e “civis”, a maior rixa de Elis
Regina com o “lado de lá” veio com uma entrevista à imprensa internacional, em
1969, na Holanda, onde declarou que o Brasil era uma terra “governada por
gorilas”. Estava de saco cheio com a falta de liberdade no país. A partir
disto, Elis passou a ser mais do que uma grande pedra no sapato da ditadura. A
cantora teve a honra de ser documentada entre os arquivos do exército
brasileiro.
- Obviamente a macacada ficou
sabendo: a embaixada brasileira mandou a matéria pra ninguém menos que o
terrível e temível SNI, Serviço Nacional de Informações. A primeira ordem foi
para prendê-la logo que pusesse os pés em terras brasileiras. Acabam mudando de
ideia ao investigar e comprovar que – ao menos até ali – ela não tinha nenhuma
participação política efetiva no Brasil. Só tinha falado demais – conta o
escritor, músico e produtor gaúcho, Arthur de Faria.
Datado em 01 de dezembro
de 1971, o documento do Ministério do Exército, intitulado com o assunto “Elis
Regina”, consiste em duas folhas de informações em relação a cantora e outras
duas folhas em que ela afirma não ter ligações com grupos de oposição política
em uma carta escrita à mão. Este “intimasso” em Elis viria a lhe incomodar por
anos a fio, com os gorilas cercando seus passos, conversas, contatos e
inclusive suas transações bancárias. Segundo Aluizio Palmar, cientista social e
jornalista, que atuou severamente em grupos de esquerda durante a ditadura, a
embaixada brasileira teria emitido a cópia da declaração de Elis Regina
afirmando que o Brasil era “governado por gorilas”. Tal fato, levou a cantora a
esclarecer-se em um interrogatório ao retornar ao Brasil.
- Tal fato mostra claramente
como haviam espiões infiltrados em todos os lugares durante a ditadura militar.
Tanto informações pessoais, como o retraimento de Elis, quanto seu depoimento
para a imprensa internacional foram escritos e apurados detalhadamente –
explica Aluizio Palmar.
Chamada ao Centro de
Relação Públicas do Exército Brasileiro para dar explicações, em 1971, de
acordo com depoimentos da própria Elis à escritora Regina Echeveria, autora do
livro “O furacão Elis”, foi em razão, em suma, deste caso, que ela teria sido
obrigada a cantar nas Olimpíadas do Exército de 1972, o que de certo modo, como
efeito apaziguador, de fato o fez.
Continua...
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