sábado, 27 de setembro de 2014

Elis Regina: a militante (PARTE 2)

Em uma época onde a sociedade brasileira dividia-se em “militares” e “civis”, a maior rixa de Elis Regina com o “lado de lá” veio com uma entrevista à imprensa internacional, em 1969, na Holanda, onde declarou que o Brasil era uma terra “governada por gorilas”. Estava de saco cheio com a falta de liberdade no país. A partir disto, Elis passou a ser mais do que uma grande pedra no sapato da ditadura. A cantora teve a honra de ser documentada entre os arquivos do exército brasileiro.
- Obviamente a macacada ficou sabendo: a embaixada brasileira mandou a matéria pra ninguém menos que o terrível e temível SNI, Serviço Nacional de Informações. A primeira ordem foi para prendê-la logo que pusesse os pés em terras brasileiras. Acabam mudando de ideia ao investigar e comprovar que – ao menos até ali – ela não tinha nenhuma participação política efetiva no Brasil. Só tinha falado demais – conta o escritor, músico e produtor gaúcho, Arthur de Faria.
Datado em 01 de dezembro de 1971, o documento do Ministério do Exército, intitulado com o assunto “Elis Regina”, consiste em duas folhas de informações em relação a cantora e outras duas folhas em que ela afirma não ter ligações com grupos de oposição política em uma carta escrita à mão. Este “intimasso” em Elis viria a lhe incomodar por anos a fio, com os gorilas cercando seus passos, conversas, contatos e inclusive suas transações bancárias. Segundo Aluizio Palmar, cientista social e jornalista, que atuou severamente em grupos de esquerda durante a ditadura, a embaixada brasileira teria emitido a cópia da declaração de Elis Regina afirmando que o Brasil era “governado por gorilas”. Tal fato, levou a cantora a esclarecer-se em um interrogatório ao retornar ao Brasil.
- Tal fato mostra claramente como haviam espiões infiltrados em todos os lugares durante a ditadura militar. Tanto informações pessoais, como o retraimento de Elis, quanto seu depoimento para a imprensa internacional foram escritos e apurados detalhadamente – explica Aluizio Palmar.
Chamada ao Centro de Relação Públicas do Exército Brasileiro para dar explicações, em 1971, de acordo com depoimentos da própria Elis à escritora Regina Echeveria, autora do livro “O furacão Elis”, foi em razão, em suma, deste caso, que ela teria sido obrigada a cantar nas Olimpíadas do Exército de 1972, o que de certo modo, como efeito apaziguador, de fato o fez.
Continua...

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