terça-feira, 21 de outubro de 2014

Elis regina: a militante (PARTE 5)

— Na entrevista para a Veja, perguntei a Elis uma coisa que me intrigava: quais eram as imposições de cima para baixo, de que tanto reclamava? Ela disse: “EU falo isso porque, quando pintei, tinha vinte e nem me permitiram, em determinado momento, fazer as estripulias normais de uma adolescente. Já começaram jogando uma sobrecarga violentíssima que talvez eu tivesse condições de arcar aos 33. Foi uma violência, mas, se foi cometida, eu permiti. E as diversas fases pelas quais fui passando determinaram-se, evidentemente, por um processo de amadurecimento e também por sufocos momentâneos” — conta a autora da biografia Furacão Elis, Regina Echeverria.
O clima de decepção moral com Elis ainda foi visto no “Festival Phono 73”, em São Paulo, com shows das grandes estrelas da gravadora Phillips, nomes como Caetano Veloso e Oldair José, por exemplo. Elis Regina entrou com um ar de tensão no palco e com o rosto fechado.
- Foi recebida com extrema frieza. Entre alguns aplausos pouco entusiasmados, muitos assovios e o grito de uma voz raivosa que se ouviu pelos quatro cantos: “Vai cantar na Olimpíada do Exército”, promovendo assim mais vaias do que aplausos pra cantora. Foi quando uma voz vinda do palco pôs ordem na casa: “Respeitem a maior cantora do Brasil”. Quem lhe prestou socorro foi o amigo Caetano Veloso – relembra Abílio Neto, crítico e pesquisador musical.
Este momento foi crucial na carreira de Elis. A cabeça já zonza por toda este vai e vem de “civis” e “militares” mudou ainda mais o seu ver sobre as coisas. Como resultado, uma reviravolta na vida e estética da cantora. Elis Regina partiu pro ataque. Foi a luta.
- A partir disso, Elis Regina deixou de ser a queridinha do samba-jazz meio Broadway. Iria virar uma cantora cool e uma mulher engajada, com um reperótiro definitivamente MPBista e de esquerda – comenta Arthur de Faria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário